terça-feira, 12 de agosto de 2014

Dengue: falta de agentes e carro fumacê agrava número de casos

Capital alagoana tem apenas 378 agentes para visitas domiciliares
 
Por Larissa Bastos, repórter do Gazetaweb
 
As faltas dos agentes de endemias e do carro fumacê estão contribuindo para o avanço da dengue em Alagoas. Somente até este mês de agosto, o estado registrou 9.763 casos da doença - sendo 256 deles nas formas mais graves da enfermidade - e uma morte já foi confirmada.

Os pedidos de doação de sangue feitos pelas redes sociais para pessoas com a doença também só aumentam. Ainda assim, poucas medidas de controle adotadas pelos órgãos oficiais parecem não surtir efeito.

Um dos problemas diz respeito aos agentes de endemias de Maceió, que, até o final de abril, estavam fora das ruas devido à falta de equipamentos como fardamentos e crachás. Mesmo com a situação resolvida e as equipes nas ruas, a Secretaria de Saúde do Município de Maceió (SMS) admite outra dificuldade: o déficit no número de profissionais trabalhando na área.

São apenas 378 para cobrir toda a capital alagoana - em visitas domiciliares para combater focos da doença. Tanto que, da última vez, a ação, que deveria acontecer a cada dois meses, devido aos ciclos de 60 dias determinados pelo Ministério da Saúde (MS), demorou um total de cinco meses para se completar. Após uma visita do órgão federal, um plano de emergência foi montado.

Segundo a coordenadora de Doenças Transmitidas por Vetores, Carmen Samico, os bairros de Maceió foram divididos em três áreas: baixo, médio e alto risco, onde o número de visitações será diferenciado dependendo da quantidade de casos registrados e do índice de infestação predial (o percentual de imóveis com focos).

MONITORAMENTO

Enquadrados como de alto de risco, Ipioca, São Jorge, Ponta da Terra, Levada, Pitanguinha, Pinheiro, Gruta, Ouro Preto, Jardim Petrópolis, Canaã, Santo Amaro, Petrópolis, Chã do Bebedouro, Fernão Velho e Rio Novo receberão três visitas até o final do ano. Já as residências em Cruz das Almas, Mangabeiras, Jatiúca, Ponta Verde, Pajuçara e Poço receberão duas visitas.

Os demais foram classificados como de baixo risco e terão apenas uma visita dos agentes de endemias. "O Ministério reordenou a situação e identificamos essas áreas, onde os profissionais terão até dezembro para ir dentro desse esquema", diz a coordenadora, que acrescenta ainda que a SMS está trabalhando para solucionar o problema do baixo número de agentes.

Ela chama atenção, porém, para o papel da população no combate à dengue. "Mesmo que fizéssemos 100% das visitas, ainda assim precisamos do auxílio da população. De que adianta o agente passar em cada casa de dois em dois meses e, nesse intervalo, o proprietário deixar juntar um monte de focos do mosquito? A população precisa fazer a parte dela".

A contadora Regina Célia Rueguer, que teve dengue há cerca de duas semanas, reclama, porém, dos poucos cuidados da saúde pública. "Esse ano, não passou nenhum agente aqui na minha casa. A situação está de um jeito que nunca imaginei. Tem muita gente doente", comenta, ela que teve a forma grave da enfermidade e quase ficou internada.

FUMACÊ

Outra reclamação da população é com relação ao carro fumacê e sobre eles estarem rodando pouco tanto por Maceió quanto no restante do Estado. "Já tem muito tempo que não vejo o carro fumacê aqui. O resultado é que peguei dengue, não sei se aqui no bairro, e fiquei muito debilitada. E ainda agradeço porque tenho plano de saúde; imagina quem depende da saúde pública", diz Regina, moradora da Gruta.

O Tratamento a Ultra Baixo Volume (UBV), mais popularmente conhecido como fumacê, atua matando o mosquito já adulto e não as larvas, mas, segundo o coordenador da área na Secretaria de Estado da Saúde (Sesau), Jorge Simões, deve ser uma das últimas medidas a ser adotadas no controle da doença.

"É a última ação de controle, até porque agride o meio ambiente. Trabalhamos dentro da necessidade, pois precisamos ter cuidado para não destruir a fauna e a flora", expõe ele, que diz ainda que os 10 carros fumacê do órgão não estão parados e são utilizados em locais de situação de epidemia da dengue.

Segundo nota da secretaria, em julho, o veículo percorreu os bairros do Trapiche, Gruta, Pajuçara e Ponta Verde, além do município de São Sebastião. Já na próxima semana, o tratamento a UBV será realizado na cidade de Penedo. "O tratamento deve ser feito durante a madrugada ou final da tarde, sem vento e sem sol", explica ainda o documento.

Jorge Simões ressalta que há municípios com o equipamento próprio também e coloca a responsabilidade pelo alto número de casos nas administrações municipais. "Quando o fumacê passa, é porque o trabalho anterior não foi feito; o município não tratou direito, assim como a população, que também precisa ter cuidados em casa, no trabalho, na escola", destaca o coordenador.

Nenhum comentário:

Postar um comentário