terça-feira, 26 de agosto de 2014

Passo do Camaragibe perde hospital e maternidade

Por Severino Carvalho, repórter da Gazeta de Alagoas (matéria publicada na edição de 17.08.14 - Especial sobre a saúde em Alagoas)

Passo do Camaragibe – Na tarde de quarta-feira (23 de julho), a Gazeta de Alagoas acompanhou o drama de Maria Cícera dos Santos, 27 anos. Sentindo as dores do parto, ela esperava na Unidade de Saúde de Passo do Camaragibe o sinal verde da Central de Regulação de Serviços de Saúde (Cora) para seguir a uma maternidade de Maceió. Foram quase 40 minutos para que o sistema encontrasse um leito na capital alagoana. Nesse intervalo, a bolsa rompeu e Maria Cícera ingressou às pressas na ambulância, encharcada de medo e revolta.

“O Cora é a treva”, disparou a diretora administrativa da unidade, Cícera Girlene Maria Nogueira. “Muitas vezes o sistema libera a viagem e quando a ambulância chega a Maceió não encontra a vaga reservada. O motorista volta e a gestante acaba tendo o filho em casa ou mesmo dentro da própria ambulância”, lamenta Girlene.

Impotente, a parteira Maria de Lourdes dos Santos, 59 anos de idade e 32 de profissão, assistia ao drama de Maria. Não tinha muito o que fazer, a não ser acalmá-la, orientá-la. A unidade de saúde de Passo do Camaragibe teve a maternidade desativada quando perdeu a categoria de hospital em 2012, revelou Girlene. Para a parteira, o fechamento da maternidade correspondeu à dor de ter sido apartada do único filho.

“Eu me senti arrasada. Gostaria muito que a maternidade fosse reativada”, declarou a parteira. O Hospital Municipal Doutor Carlos Gomes de Barros, com 24 leitos, se transformou em uma espécie de pronto-atendimento 24 horas, como a própria placa informa, erguida em um totem, em frente ao prédio de alvenaria, onde funcionava o antigo hospital.

Com uma média de 60 atendimentos diários a unidade é tocada em cogestão com o governo do Estado, em um custo mensal de R$ 140 mil, necessários para manter, na teoria, uma equipe médica 24 horas, revelou a diretora.

O atendimento é ambulatorial. Em casos graves, o paciente é estabilizado e transferido ao Hospital Geral do Estado (HGE), em Maceió. Em casos simples, também. Se houver, por exemplo, uma suspeita de fratura no dedo mindinho, o paciente terá de ser removido. É que ali não existe aparelho de raio-X.

“Perdemos o hospital porque possuímos menos de 27 leitos. Temos aqui duas ambulâncias e elas não param: é uma chegando, outra saindo. Para a população do Passo, que é carente, o fechamento do hospital foi péssimo. Como não podemos manter pessoas internadas aqui, os parentes precisam visitá-los em Maceió, mas não têm dinheiro para as viagens”, declarou a diretora administrativa, que ainda sonha em reativar o hospital.

Mais próxima de renascer está a maternidade. A parteira e a diretora administrativa esconderam a mesa de parto e outros equipamentos em um dos banheiros do centro cirúrgico do extinto hospital para evitar que funcionários da Secretaria de Estado da Saúde (Sesau) recolhessem o equipamento, quando da desativação da unidade hospitalar.

Mesmo contrariando as recomendações da Sesau, Girlene pretende reabrir a maternidade para casos emergenciais, como o de Maria, a parturiente que teve a bolsa rompida e viajou às pressas para dar à luz em Maceió. A mesa de parto recebeu pintura e já se encontra instalada.

“Não adianta enviar a gestante para Porto Calvo que eles não recebem, dizem que o caso é de risco, colocam mil e uma dificuldades. O hospital de lá só é bonito na propaganda, porque até um dia desses até o telefone tava cortado”, revelou Girlene.

OUTRO LADO

A Sesau negou o fechamento do hospital de Passo do Camaragibe. A secretaria esclareceu que a unidade é destinada ao pronto-atendimento 24 horas, por meio de cooperação técnica e financeira com a secretaria de Estado (termo de cooperação mútua) com repasse mensal de R$ 95 mil ao município.

Nenhum comentário:

Postar um comentário