segunda-feira, 29 de setembro de 2014

Prefeitura paga salários do mês de setembro na terça-feira (30)

A Prefeitura de Maceió paga, a partir das 14h da próxima terça-feira (30), o salário do mês de setembro a todos os servidores municipais.


Fonte: Secom/Maceió

sexta-feira, 26 de setembro de 2014

NOTA DE ESCLARECIMENTO

Primeiramente, quero justificar minha ausência na audiência de hoje (25). No dia anterior tive reunião em São Paulo para tratar de assuntos de interesse de nossa categoria. A reunião foi entre a candidata a presidente do Brasil, Marina Silva, e os líderes sindicais. Estivemos presentes enquanto Sindas-AL marcando nossa posição frente aos interesses de nossa categoria.
 
Em minha intenção estava de voltar no mesmo dia chegando em Maceió por volta de meia-noite e meia (00h30). Mas houve um contratempo devido ao trânsito de São Paulo que me fez perder o voo, por isso só pude chegar em casa às 11h do dia seguinte, no caso hoje (25).
 
Companheiros, mesmo estando lá em "Sampa", eu não pensava em outra coisa se não este julgamento que para muitos não significava nada e para outros significa o futuro de nossos trabalhos e de nossas famílias.
 
Mesmo sabendo que o processo não foi concluído porque falta o voto do pedido de vista do Desembargador Dr. Marcelo, quero desde já agradecer a brilhante atuação de nosso advogado Dr. Geraldo Galvão que sem sua habilidade jurídica estaríamos onde muitos esperavam (demitidos).
 
Quero também agradecer aos abnegados diretores desta entidade sindical que não medem esforços quando se trata de lutar por direitos. Estaremos atentos a qualquer investida contra nossa categoria. Fiquem com Deus, nosso bom e fiel Amigo! Um forte abraço!
 
Mauricio Sarmento
Diretor do Sindas-AL

quarta-feira, 24 de setembro de 2014

VAMOS RESISTIR!



O Sindicato dos Agentes de Saúde de Alagoas (Sindas-AL) convoca todos os Agentes Comunitários de Saúde (ACS) e Agentes de Combate às Endemias (ACE) para participarem da audiência de julgamento do processo sobre a efetivação dos ACE e ACS de Maceió prevista para esta quinta-feira (25), a partir das 9h, na sede do Tribunal Regional do Trabalho da 19ª Região (TRT 19ª Região), no Centro.

Mais uma vez os nossos companheiros e companheiras agentes de saúde da capital ocupam a agenda da alta corte da justiça trabalhista no estado. Convidamos os trabalhadores a participarem desta audiência que julgará o recurso interposto pela Prefeitura de Maceió, em 2010, contra a efetivação dos ACE e ACS de Maceió (nº 0000144-42.2010.5.19.0010).

O Sindas-AL não vai desistir e, na mesma hora da audiência, se concentrará frente ao TRT contra esse recurso do Município de Maceió. Essa atual gestão prova mais uma vez ser contra os interesses dos agentes de saúde. A assessoria jurídica do Sindas acredita no resultado positivo da audiência para a gente, mesmo assim não vamos ficar calados.

Por isso, o Sindas convoca a todos a comparecerem com faixas, cartazes ou qualquer outro objeto de reivindicação dum ato que será organizado neste dia 25, a partir das 9h, em frente ao TRT. Precisamos nos unir neste momento importante do julgamento de um processo que poderá mexer com o nosso futuro e o futuro de nossas famílias!

Vamos à luta!

Mauricio Sarmento da Silva

Diretor do SINDAS/AL

quarta-feira, 17 de setembro de 2014

NÚCLEO DE CESSAÇÃO DO TABAGISMO ABRIRÁ DUAS NOVAS TURMAS

2º Centro Saúde - Projeto contra o Tabagismo.  Foto: Pei Fon/ Secom Maceió
O primeiro Núcleo de Cessação do Tabagismo de Maceió, ligado à Coordenação de Promoção em Educação e Saúde (Copes), da Secretaria Municipal de Saúde (SMS), inaugurado em agosto, vai reunir na tarde do dia dia 23 de setembro um novo grupo de trinta novas pessoas interesadas em largar o vício do cigarro. Segundo a coordenadora do Núcleo, Gilda Teodósio, devido ao grande registro de procura serão abertas duas novas turmas com quinze integrantes cada. “Temos mais de oitenta pessoas inscritas para participar do programa, mas infelizmente não podemos atender a todos de uma única vez”, disse Teodósio. O núcleo funciona no II Centro de Saúde, na Praça da Maravilha, no Poço.
A unidade abriu inicialmente três turmas que funcionam na terça pela manhã, quarta à tarde, e quinta-feira à tarde. As reuniões duram cerca de uma hora. Inicialmente, os grupos têm reuniões mensais, que depois passam a ser quinzenais. A equipe multidisciplinar vai utilizar a metodologia preconizada pelo Instituto Nacional de Câncer (Inca) do Ministério da Saúde (MS).
O método de estudo é baseado no conteúdo de quatro livretos lançados pelo Inca. O primeiro, ‘Entender por que se fuma e como isso afeta a saúde”; o segundo, “Os primeiros dias sem fumar”; o terceiro, “Como vencer os obstáculos para permanecer sem fumar”, e finalmente o quatro livreto, “Benefícios obtidos após parar de fumar”.
O grupo que atua com os interessados de largar o vício de fumar é multidisciplinar, reunindo fisioterapeutas, assistentes sociais, enfermeiros, psicólogos, nutricionistas, e médicos (que estão fazendo a capacitação para o trabalho específico).
Estímulos positivos
O folheto organizado pela equipe do núcleo elenca alguns benefícios para quem quer largar o vício do cigarro. Pesquisa já realizada pelo Inca aponta que após 20 minutos sem fumar, a pressão arterial e a pulsação volta ao normal (fumar acelera o coração e aumenta a pressão arterial), em apenas oito horas sem as substâncias nocivas do tabaco, o nível de oxigênio no sangue se normaliza. Em dois dias, a capacidade de sentir o cheiro das coisas e o sabor das comidas melhora.
Depois de duas semanas e até três meses sem cigarro, a circulação melhora, fica mais fácil caminhar e a função pulmonar aumenta. Depois de largar o vício por mais de cinco ou 15 anos o risco de infarto reduz ao nível das pessoas que nunca fumaram. Telefones de contato para os interessados em uma das vagas são: 3337-3519/ 3315-2641
Fonte:Ascom/SMS

SMS REFORÇA ESCLARECIMENTOS DO MINISTÉRIO DA SAÚDE SOBRE VACINA DO HPV

Vacinação_HPV3

Responsável pela realização da segunda etapa da vacinação de meninas na faixa etária de 11 a 13 anos contra o Papilomavírus Humano (HPV) em Maceió, o Programa de Imunização (PNI) do município vem reforçando, junto à população, os esclarecimentos feitos pelo Ministério da Saúde (MS) e pela Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo, sobre os eventos adversos ocorridos após a aplicação da dose da vacina em adolescentes no município de Bertioga (SP), afastando a hipótese da suspensão da campanha em todo o país.

No início de setembro – quando começou a ser aplicada a segunda dose da vacina em todo o Brasil – 11 meninas que receberam a nova dose da vacina em escolas municipais de Bertioga apresentaram cefaleia, tontura, fraqueza e tremores. Encaminhadas ao pronto socorro, foram avaliadas, medicadas e tiveram alta. No dia 5 de setembro, retornaram ao atendimento com as mesmas queixas, ficando em observação. A maioria recebeu alta, mas duas delas informaram estar com dificuldade para andar. No dia 6, outra adolescente apresentou a mesma queixa. As três adolescentes já passaram por avaliação neurológica e não apresentaram alterações. Elas seguem internadas e devidamente monitoradas.

Diante da situação, o Ministério da Saúde vem procurando tranquilizar a população afirmando, na nota divulgada, que todas as vacinas utilizadas no Programa Nacional de Imunização (PNI) são seguras e passam por um rigoroso processo de controle de qualidade realizado pelo Instituto Nacional de Controle de Qualidade em Saúde/INCQS/Fiocruz. Todo e qualquer evento adverso que ocorra durante o uso de seus imunobiológicos são monitorados, de modo a detectar qualquer alteração de situações não observadas anteriormente nos estudos clínicos realizados para obtenção de registro das vacinas, visando garantir o perfil de segurança das mesmas.

Apesar de reconhecer que os eventos adversos ocorridos nessa etapa da campanha já foram observados na aplicação de outras vacinas injetáveis, a Coordenação Geral do Programa Nacional de Imunizações do Ministério da Saúde credita este momento à hipótese diagnóstica de uma associação à ansiedade de receber uma injeção (reação de ansiedade após vacinação). Reforça, porém, que é fundamental garantir, com o esquema de vacinação estendido adotado , uma alta cobertura da segunda dose, para proporcionar a proteção necessária contra a infecção pelo vírus HPV, até que a adolescente receba a terceira dose, em cinco anos.
A coordenação do PNI no município de Maceió informa que seguirá, até o dia 30 de setembro, com a aplicação da segunda dose da vacina contra o HPV nas unidades de saúde e nas escolas públicas e privadas da capital, visando atingir ou superar a cobertura vacinal obtida com a primeira dose, aplicada em março deste ano, quando foi alcançado o percentual de 90,29% de meninas na faixa etária de 11 a 13 anos.

Fonte: Ascom/SMS

quinta-feira, 11 de setembro de 2014

RESPOSTA DO SINDAS-AL À DECISÃO DO TJ-AL QUE DECLAROU ILEGAL A GREVE DE 53 DIAS DOS ACE


Apesar de não concordar com a decisão do Tribunal de Justiça de Alagoas (TJ-AL) a respeito da compensação das horas não trabalhadas durante a greve de novembro do ano passado, o Sindicato dos Agentes de Saúde de Alagoas (Sindas-AL) informa que os Agentes de Combate às Endemias de Maceió (ACE) vão cumprir a decisão da Justiça. Segundo o TJ, após votação, realizada ontem (9), a maioria do pleno decidiu pela ilegalidade da greve.
 
O Sindas-AL considera a decisão da Justiça injusta. O pleno do TJAL deve observar que as condições de trabalho tanto dos ACE quanto dos Agentes Comunitários de Saúde (ACS) são precárias, resultado da falta de apoio do Município. Princípio que foi o pavio para deflagração da greve. Tanto é verdade que os casos de dengue continuam aumentando e o TJ deveria atentar para isso.

O descaso do Município de Maceió para com os agentes de saúde é tamanho que, por exemplo, faltam larvicidas e há mais de 1 ano falta veneno de combate aos roedores. Com isso, a população é a maior prejudicada a partir do momento em que a administração púbica deixa de dar suporte aos trabalhadores.

Tudo deve ser tomado em conta pelos desembargadores antes de uma decisão como a de ontem para que Maceió não sofra uma punição maior no futuro por falta de saúde.

A maioria do pleno não foi justa, pois com essa decisão aplicou duas punições aos agentes de endemias: uma pela carência de saúde em Maceió e outra por trabalhar mesmo sem as devidas condições de trabalho.

O Sindicato dos Agentes de Saúde de Alagoas informa que vai se reunir com a equipe de administração de Maceió para negociar a compensação das horas de trabalho. E que também será agendada uma assembleia para informar toda categoria sobre o resultado da reunião e quanto à decisão do TJ.

quarta-feira, 10 de setembro de 2014

Vacina contra dengue tem eficácia de 60,8%, mostra pesquisa


No Brasil 3.550 crianças e adolescentes entre 9 e 16 anos das regiões Nordeste, Centro-Oeste e Sudeste foram vacinados


Depois de 20 anos em desenvolvimento, a vacina contra a dengue em estágio mais avançado no mundo chegou à etapa final mostrando eficácia de 60,8% contra os quatro sorotipos da doença. Outro resultado é que entre as pessoas que foram vacinadas e, mesmo assim, tiveram  dengue, houve redução de 80,3% no número de internações com relação a quem não foi imunizado.
Segundo Sheila Homsani, gerente do Departamento Médico da Sanofi Pasteur, laboratório responsável pela vacina, o estudo está concluído e agora os dados serão consolidados para o pedido de registro à Agência Nacional de Vigilância Sanitária, para que possa ser comercializada no Brasil e, eventualmente, ser incorporada à rede pública. A expectativa é que demore cerca de um ano para o registro sair.
Em etapa anterior, feita na Ásia, a pesquisa havia mostrado eficácia de 88% contra o tipo hemorrágico da doença, considerado o mais grave. Agora, na última etapa, a vacina foi testada no Brasil, em Honduras, no México, na Colômbia e em Porto Rico. No Brasil 3.550 crianças e adolescentes entre 9 e 16 anos das regiões Nordeste, Centro-Oeste e Sudeste foram vacinados.
A imunização e o acompanhamento foram feitos de junho de 2011 a abril de 2013. O laboratório, no entanto, vai acompanhar por mais cinco anos os imunizados.
Segundo Sheila Homsani, os resultados estão acima das expectativas da Organização Mundial da Saúde, que pretende reduzir em 50% a mortalidade por dengue até 2020.
A dengue é considerada questão de saúde pública brasileira e é doença endêmica de cerca de 100 países. De 1º de janeiro a 19 de julho deste ano, o Ministério da Saúde notificou 688.287 casos da doença e 554 mortes.
Fonte: Agência Brasil

segunda-feira, 8 de setembro de 2014

Atenção trabalhadores e trabalhadoras: “Não caiam no conto do vigário!”


Diga não à pelegagem! O movimento grevista dos sindicatos pelegos que compõem a Mesa de Negociação ou “Mesa de Politicagem”, junto com a Prefeitura de Maceió, iniciou uma greve sob o argumento de cobrar os pagamentos de direitos trabalhistas como as progressões salariais de 5%. O Sindicato dos Agentes de Saúde de Alagoas (Sindas-AL) alerta: “Não caia no conto do vigário!”.

“Movimento grevista é importante, mas esse movimento de greve que está aí não representa os trabalhadores. Eles representam os interesses de grupos políticos. Estão defendendo apenas os interesses do próprio bolso”, publicou o secretário-geral do Sindas-AL, Maurício Sarmento, em sua página numa rede social.

O Sindicato dos Agentes de Saúde de Alagoas (Sindas-AL) volta a alertar os trabalhadores e as trabalhadoras Agentes de Combate às Endemias e Agentes Comunitários de Saúde para não se iludirem com as pautas de reivindicações desse conluio. Uma greve de verdade com o apoio de toda a categoria ainda está por vir!

A luta não é apenas por um reajuste salarial de 5%, estão esquecendo de pautas de maior envergadura e relevância para nossa categoria. Parafraseando uma das cenas do filme “O Alto da Compadecida”, inspirado na obra de Ariano Suassuna: “Cortaram a vaquinha da irmandade e os 20% do bispo!”.

terça-feira, 2 de setembro de 2014

AS CHAGAS DA SAÚDE

A Gazeta publicou no domingo (24) o segundo caderno especial sobre a saúde em Alagoas que mostrou a rotina sofrida e o tratamento desumano dado a usuários do SUS


Por Maurício Gonçalves, repórter da Gazeta de Alagoas (matéria publicada na edição de 24.08.14 - Especial sobre a saúde em Alagoas)


Foto: Marcelo Albuquerque/Gazeta de Alagoas


A grade do minipronto-socorro do Benedito Bentes separa dois mundos, entre a vida e a prisão do SUS. Do lado de cá, somos nós, fora do jornal. Do lado de lá, os olhos do paciente exausto refletem o sofrimento de anos de luta contra a doença mal tratada que mutila aos poucos. Vão-se os dedos, os pés, as pernas e o paciente vai desaparecendo. Ficam os anéis da corrupção, negligência, burocracia e de tudo o que não presta na rede pública de Alagoas. O destino pode ser a cadeira ao lado, vazia, onde o enfermo invisível também sumiu, perdeu-se nas estatísticas e virou etiqueta de saco cadavérico.

Encostados na parede, ao fundo, os usuários no banco de espera são vítimas ansiosas para denunciar crimes. Parecem não se identificar “temendo represálias”. A grade serve de venda para o homem de camisa vermelha, o rapaz de cabeça abaixada não é reconhecido. Eles vão acusar ladrões da saúde alheia, como a hipertensão, vermes variados e a diabetes que deteriora membros do corpo. São males fáceis de identificar (quando se consegue fazer exames), os bandidos são reconhecidos, mas o sistema é bruto e dá as ordens: “o doente que sofra atrás do xadrez da impunidade”.

Delitos corriqueiros, patologias simples, facilmente preveníveis, tomam corpo e se transformam em doenças graves, crimes hediondos. Com o abandono da atenção à saúde básica, uma lombriga que não se evita por falta de agentes de saúde da família, nem é combatida no posto da comunidade, pode virar uma complicação intestinal grave. Sem atendimento ambulatorial nem hospitalar no interior, o caso piora e vem para a vala comum do HGE, em Maceió, mas retorna ao município de origem e agora depende de uma vaga no temido Cora (Complexo Regulador Assistencial). É um balaio de estupidez que custa muito mais caro aos cofres públicos.

Não existe muita lógica nisso, mas para tentar entender um pouco como funciona o SUS em Alagoas, a Gazeta acionou uma equipe de repórteres para percorrer unidades de saúde em vários pontos do estado, relatar a rotina sofrida dos usuários, conversar com profissionais, agentes de fiscalização e gestores que atuam na área. O resultado dessa investigação jornalística é assustador, e começou a ser revelado num caderno especial, publicado domingo passado.

Na edição de hoje, o caderno de Saúde está separado em quatro blocos de assuntos para guiar os leitores neste mergulho ao poço sem fundo em que se tornou a saúde pública. O primeiro bloco traz matérias sobre hospitais e UPAs (Unidades de Pronto Atendimento). O segundo trata da problemática saúde básica. No bloco 3, o foco são as denúncias e personagens. Já o quarto bloco traz entrevistas reveladoras com o tema, debates e análises.

Ao ingressar em cada um desses blocos, o leitor vai perceber que os males são enganchados uns aos outros, como uma grande teia de aranha com insetos presos debatendo-se em vão. Os pacientes da foto acima esperam para entrar em um minipronto-socorro que sempre está lotado, enquanto a UPA do mesmo bairro, construída em área de 1.220 m², continua fechada, sem previsão para inaugurar por falta de profissionais e equipamentos.

A estrutura metálica da UPA de Maragogi enferruja próximo à beira-mar, com equipamentos abandonados, sem nunca ter realizado um atendimento. Com ordem de serviço assinada em 2010 e orçamento de R$ 2,4 milhões, a obra só foi concluída este ano, mas segue sem a menor previsão de quando abrirá as portas. Sem UPA ou hospital, as pessoas se espremem durante horas para ter atendimento em uma unidade que nem aparelho de raio X tem.

Qual besouros e moscas, os pobres alagoanos não conseguem se desgarrar de certos fios pegajosos. A rede do SUS é uma armadilha, do Sertão ao Litoral Norte do Estado. Em Maragogi, a saga da usuária Elane Barros para sobreviver começou com uma dor estranha no abdômen. Sem posto médico no Sítio Ponta de Mangue, ela foi buscar atendimento na Unidade de Saúde da Família do povoado Peroba. Foi encaminhada para a unidade mista da cidade (uma espécie de ambulatório misturado com hospital). Já com suspeita de cálculo renal, esperou 15 dias pelos exames e contraiu infecção urinária. Assustada, só teve um jeito para escapar da teia: saiu de Alagoas rumo ao Hospital de Barreiros, em Pernambuco.

Para a dona de casa Neuza Teodósio, a escapatória é mais complicada. O esgoto do Hospital Clodolfo Rodrigues, em Santana do Ipanema, despeja dentro da sua residência, ao ponto de infiltrar no piso e deixar as paredes úmidas. A contaminação desce dos leitos, banheiros, cozinha e lavanderia do hospital direto para a pele, os brônquios e o aparelho digestivo da vizinha infeliz. Assim como a sertaneja, quem mais habita abaixo do ralo do SUS?

Esgoto hospitalar provoca doenças

Por Patrícia Bastos, repórter da Gazeta de Alagoas (matéria publicada na edição de 24.08.14 - Especial sobre a saúde em Alagoas)

Santana do Ipanema – Todo novo, equipado e inaugurado, o Hospital Regional Clodolfo Rodrigues demorou mais de dez anos para funcionar. A expectativa da população de Santana do Ipanema era imensa, já que até o ano de 2010 tinha que viajar a Maceió ou Arapiraca para ter acesso a procedimentos médicos simples. O funcionamento do hospital, no entanto, se tornou um martírio para os moradores do bairro Santa Rita.

O esgoto dos banheiros, a água usada na cozinha, lavanderia e limpeza do hospital escorrem a céu aberto pelas ruas sem pavimentação do bairro. A contaminação provoca doenças e a sujeira está levando famílias a se mudar para longe. Moradores se queixam que são frequentes as ocorrências de diarreia em crianças da região e há também casos de verminoses contraídas pelo contato com os resíduos líquidos.

A desempregada Neuza Teodózio, 58, é uma das vizinhas que mais sofrem. O esgoto escorre em cheio para a residência onde ela mora, que fica em um nível mais baixo do hospital, tornando-se um ambiente insalubre. “Eu só moro aqui porque não tenho condições de ir para outro lugar. Sou uma pessoa sozinha e lutei muito para conquistar essa casa, não posso abandoná-la”, explica Neuza, que sobrevive com a renda do Bolsa Família.

A água servida sai dos fundos do hospital, percorre parte da rua, desce por terrenos baldios e se acumula no muro da casa de Neuza. As paredes ficam úmidas e, pelas infiltrações, o esgoto vai parar dentro da residência. A umidade e o contato diário com a água contaminada levaram a desempregada a desenvolver bronquite asmática, que provocou internação no próprio Clodolfo Rodrigues, em 2012.

“Os médicos disseram que fiquei doente por causa do esgoto e o único jeito de não adoecer mais é saindo dessa casa. É triste, mas ao mesmo tempo é engraçado, pois o hospital que deveria levar saúde, para mim é causa de doença”, pondera.

Neuza Teodózio passa o dia inteiro tentando manter a casa limpa para evitar uma nova crise de bronquite que, além da tosse com muita secreção, provoca também falta de ar. Para evitar a umidade, ela chegou a reforçar as paredes da residência, mas a água começa a minar assim que a cobertura de cimento acaba. A desempregada chegou até mesmo a cimentar uma fileira de tijolos na frente da porta do quarto porque, quando chove, a infiltração é tanta que a água invade até mesmo o aposento.

“O sofá que eu tinha já esculhambou porque a madeira apodreceu por ficar molhada direto. Já perdi também o armário da cozinha e o guarda-roupa por causa da umidade das paredes. Só tenho esses agora porque vizinhos me deram”, relatou, explicando que, agora, para evitar que os móveis se estraguem, passou a deixá-los longe das paredes e suspensos por tijolos.

Neuza reclama ainda que, por causa da infiltração, não consegue manter a casa limpa e sabe que corre o risco de adquirir outras doenças pelo contato com a água contaminada. “Quando o pessoal da Vigilância Sanitária esteve aqui, disse que eu não deveria pegar o pano de chão que uso para enxugar as poças com a mão ou com os pés descalços, mas não tem como limpar de outro jeito”, declarou a moradora, que recentemente pediu socorro à Defensoria Pública.

INSUPORTÁVEL

A vizinha de Neuza, Maria Hilda da Silva, 71, não tem a casa invadida pelo esgoto, mas se preocupa com a neta, que está fazendo tratamento contra uma bactéria contraída pelo contato com a água contaminada. “Quando a gente fez a consulta com ela no hospital, o médico falou que o germe entrou pelo pé. A gente não deixa que ela fique descalça de jeito nenhum, mas acho que ela pode ter pisado nessa água suja sem querer”, contou, dizendo que, antes, a menina já havia sofrido alguns episódios de diarreia.

“Além do risco de ficar doente, o que mais incomoda é o mau cheiro. Quando o sol esquenta é difícil ficar do lado de fora e tem que trancar porta e janelas para o cheiro não entrar dentro de casa”, reclamou.

O cheiro ruim, aliás, é a principal reclamação dos moradores do bairro Santa Rita. Eles se queixam que o fedor atrapalha as refeições e até mesmo o sono. “Mesmo com as portas fechadas, não tem como impedir o cheiro de entrar. Às vezes, a gente perde até o apetite porque, na hora em que vai colocar a comida na boca, o fedor entra pelo nariz”, afirma Gileuza Ramalho.

Em um terreno próximo, existe uma placa: “Vendo barato ou troco”. Mas nunca apareceu ninguém querendo comprar. Segundo Gileuza, explicações já foram solicitadas ao hospital, reportagens denunciando o problema já foram feitas, e nada mudou até agora. “O hospital diz que a Casal é que deve resolver o problema, mas ninguém faz nada. Tem horas que nem acredito que esse problema vai ser resolvido um dia”, lamentou.

VIA-CRÚCIS

Agências de notícias do Sertão trazem, principalmente nos fins de semana, informações sobre acidentes ocorridos na região em que as vítimas são encaminhadas para o Hospital Regional Clodolfo Rodrigues. Em vários casos, o relato complementa que a vítima foi posteriormente transferida para a Unidade de Emergência (UE) do Agreste, em Arapiraca.

Casos considerados simples também são transferidas para o hospital de Arapiraca. A dona de casa Maria José dos Santos, 52, que mora no bairro Santa Rita e fez reclamações em relação ao mau cheiro exalado do esgoto do hospital, relatou a via-crúcis percorrida quando teve uma crise de artrose, há cerca de um mês.

Com dores fortes e rigidez nas articulações dos joelhos, ela foi até o Clodolfo Rodrigues acompanhada da vizinha, Gileuza Ramalho. “Ela não conseguia andar direito e sentia muita dor, mas outras pessoas passaram na frente dela, na hora do atendimento”, relata Gileuza que, devido à preocupação, pediu a um médico que passava pela recepção da emergência do hospital – a mesma que traz a fachada de UPA 24 horas – que atendesse a sua vizinha.

“Falei para o médico que ela estava sentindo muita dor e sabe o que ele disse? Que ninguém morre de dor, porque se dor matasse não sobrava nenhuma mulher que tivesse filho, pois morreriam tudo no parto. Isso não é postura de médico. A gente é pobre, mas não merece ser tratado desse jeito”, reclamou.

Maria José conta que chegou ao hospital por volta das 18 horas e só tomou a medicação para a crise de artrose às 12 horas do dia seguinte. “Só fui atendida no hospital perto das 10 horas da noite e aí me disseram que eles não tinham o remédio que eu precisava. Era quase meia-noite quando me colocaram em uma ambulância para Arapiraca e me levaram para a Unidade de Emergência, mas não me atenderam porque lá só cuidam de caso de trauma e não de doença, como era o meu caso”, relatou.

Depois de passar mais algumas horas de espera e sentindo dor, Maria José foi finalmente transferida para o Hospital Chama, onde tomou a medicação. “Fui liberada para voltar para casa meio-dia. Se tivesse o remédio no hospital de Santana (onde havia chegado 18 horas antes) e se eles tivessem me atendido rápido, na noite anterior estava em casa”, declarou.

O OUTRO LADO

O diretor do Instituto Pernambucano de Assistência à Saúde (Ipas), Marco Calderon, que administra o Hospital Clodolfo Rodrigues, explica que a quantidade de transferências de pacientes para outras unidades hospitalares é pequena em relação aos atendimentos realizados. Segundo ele, o hospital atende cerca de dez mil pessoas por mês, metade em casos de emergência e o restante no atendimento ambulatorial. Já a quantidade de transferências, para a Unidade de Emergência do Agreste e para o Hospital Geral do Estado (HGE), é menor que duzentas.

“Todos os meses, a quantidade de transferências fica em torno de 180 e eu tenho, no meu gabinete, relatórios com a justificativa para cada um desses casos. Não existe recusa de atendimento ou preguiça, até porque atendemos uma região com cerca de 520 mil habitantes de quase 30 municípios do Sertão, e ainda pacientes que vêm de cidades de Pernambuco e de Sergipe, que fazem divisa com Alagoas. Temos UTI, atendimento ginecológico e obstétrico, e somos referência em cirurgia buco-maxilo facial”, afirmou.

Calderon justifica que as transferências acontecem porque o Clodolfo Rodrigues não dispõe de médicos com especialidade em cardiologia e neurologia no quadro de profissionais. “Mas fazemos muito com os recursos que recebemos. Enquanto a Unidade de Emergência chega a receber R$ 8 milhões por mês, o repasse do Clodolfo Rodrigues é pouco mais que um terço desse valor. Nosso contrato não sofre reajuste desde 2010, quando o hospital abriu as portas, e nós temos uma UCI (Unidade de Cuidados Intensivos) funcionando desde março, mas não recebemos recurso nenhum para ela”, declarou.

Os repasses do Clodolfo Rodrigues são de R$ 517 mil da União, R$ 220 mil da prefeitura e ainda pouco mais de R$ 1,4 milhão provenientes do governo estadual. O total de R$ 3,1 milhões mantém uma estrutura com 600 funcionários, entre eles 80 médicos, 166 leitos, UTI adulto, UCI, consultas ambulatoriais e exames de média e alta complexidades.

Em relação ao esgoto do hospital que corre pelas ruas do bairro Santa Rita, Marco Calderon afirma que denúncias já foram levadas às esferas da Vigilância Sanitária municipal e estadual, e que o Hospital Clodolfo Rodrigues não pode fazer mais do que já faz atualmente.

“Por mais que isso possa soar estranho, o esgoto não é um problema nosso. A Casal firmou um convênio com a prefeitura se comprometendo em ligar o hospital à rede de esgoto, mas essa obra sequer foi iniciada. Da nossa parte, caminhões fazem o desgotamento da fossa, diariamente, mas, como se pode ver, isso ainda é insuficiente. Gastamos R$ 11 mil por mês com um serviço que a Casal deveria fazer”, argumentou.

HOSPITAIS E UPAS

Por Maurício Gonçalves, repórter da Gazeta de Alagoas (matéria publicada na edição de 24.08.14 - Especial sobre a saúde em Alagoas)

Pense num nó cego sem ninguém para desatar. Falta coragem. O médico recebe 90 pacientes por dia, mas não atende ninguém direito. Abandona o posto e deixa o povo sem saúde básica.
 
O prefeito chora a falta de dinheiro, o vereador compra ambulância e superlota ainda mais o hospital da região, que não tem um raio X.
 
Se precisar, despacha para o HGE. Se o tomógrafo quebra, não conserta, é melhor pagar R$ 60 mil por mês para aumentar o lucro de um hospital particular.

UPA do Benedito Bentes está pronta, mas não funciona

Por Erick Balbino, repórter da Gazeta de Alagoas (matéria publicada na edição de 24.08.14 - Especial sobre Saúde em Alagoas)

Maceió – “O Biu deixou de ser um bairro há muito tempo. É muita gente para pouco investimento, principalmente na área da saúde”. O motoboy Cícero Júnior dos Santos, de 35 anos, morador do Conjunto Frei Damião, resume a situação do SUS no complexo habitacional Benedito Bentes de modo simples e direto.

O governo do Estado finalizou a construção da Unidade de Pronto Atendimento (UPA) do “Biu” no mês de julho, mas a obra ainda não pode ser inaugurada pela falta de equipamentos e porque o gerenciamento deve passar à Prefeitura de Maceió.

Enquanto isso, a população do Benedito Bentes e das dezenas de aglomerações residenciais que integram o bairro, como Carminha, Parque das Américas e Grota da Alegria, sofre com a superlotação do Minipronto-socorro Denilma Bulhões, que é responsável pelo atendimento de urgência e emergência de toda a região.
 
A prefeita comunitária Ivanilsa Costa acredita que a UPA pode melhorar alguns problemas no bairro, mas não supre todas as necessidades. “Somos quase 250 mil habitantes. Isso representa um número bastante significativo quando comparado com a população de toda a capital. O número de ocorrências por aqui é alto e o minipronto-socorro não suporta”, disse ela.

A nova UPA é considerada de porte 3, tem uma área com mais de 1.200 metros quadrados e deve realizar procedimentos de urgência e emergência, com solução em mais de 90% dos casos. Segundo a assessoria de comunicação da Sesau, cerca de 75% dos equipamentos já chegaram e o prédio será entregue ao município “em breve”.

A UPA funcionará 24h, com uma equipe multiprofissional, realizando acolhimento e classificação de risco. Os pacientes serão destinados para as alas verde, azul e vermelha, de acordo com o grau de complexidade apresentado no momento da chegada.

Instalação de unidade já dura quatro anos

Por Severino Carvalho, repórter da Gazeta de Alagoas (matéria publicada na edição de 24.08.14 - Especial sobre a saúde em Alagoas)

Maragogi – A ordem de serviço para a instalação da Unidade de Pronto Atendimento (UPA) de Maragogi foi assinada em agosto de 2010, pelo então secretário de Estado da Saúde, Herbert Motta. As obras, entretanto, só seriam iniciadas em 2012, com prazo de conclusão de 90 dias. Mas a estrutura física do prédio só ficaria pronta em janeiro de 2014.

Instalada à margem da AL-101 Norte, a UPA de Maragogi está orçada em R$ 2.396.625,75. A cerca de 200 metros da praia, o prédio de estrutura metálica permanece fechado e já apresenta ferrugem nas vigas. Até agora, apenas o mobiliário foi entregue e permanece guardado dentro de alguns cômodos da unidade. São macas, camas e balcões, além de suportes para aplicação de injeção e soro.

Segundo a secretária municipal de Saúde, Rosana Rios, o mobiliário foi entregue pelo governo do Estado, como contrapartida. Ela assumiu a pasta recentemente e disse que vai se reunir com técnicos da Secretaria de Estado da Saúde (Sesau) para se inteirar sobre a situação da UPA e colocá-la em funcionamento o mais rapidamente possível.

O prefeito Henrique Peixoto (PSD) informa que o município assinou convênio com a Sesau para assumir e realizar a licitação destinada à compra dos equipamentos, avaliados em meio milhão de reais. Os recursos já estão disponíveis na conta específica do município. “Se fosse para o Estado fazer a licitação, demoraria mais um ano, então a Sesau entendeu que o processo licitatório deveria ser feito pelo município e nos repassou os recursos. A licitação foi feita e aguardamos apenas a entrega do material”, informou o prefeito.

A intenção da Sesau é inaugurar a UPA de Maragogi na segunda semana de setembro. Os gestores municipais, entretanto, estudam uma maneira de viabilizar a gestão da unidade, depois que o Estado a repassar à prefeitura. Eles temem não conseguir arcar com os custos mensais da UPA quando esta estiver em funcionamento.

A região Norte do Estado é totalmente desprovida de hospitais e unidades de saúde equipadas. Dessa forma, haveria uma migração de pacientes de outros municípios a Maragogi. “Não será fácil manter a UPA principalmente com a crise financeira que os municípios brasileiros atravessam. Vamos tentar viabilizar um convênio com Japaratinga. O prefeito do município, Newberto Neves, já se mostrou disposto a colaborar financeiramente”, revelou Henrique Peixoto, afirmando ser um sonho pôr em funcionamento a UPA.

Enquanto a instalação da UPA de Maragogi já dura quatro anos, os moradores e visitantes do segundo maior polo hoteleiro de Alagoas e um dos destinos turísticos mais procurados do Brasil sofrem com uma acanhada Unidade Mista de Saúde, desprovida até de equipamentos de radiologia.

A Unidade Mista de Maragogi tem apenas 12 leitos e registra uma média de 100 atendimentos diários de urgência e emergência (demanda espontânea). O município – com cerca de 30 mil habitantes – não possui hospital. Sem estrutura na Unidade Mista, se avolumam as transferências de pacientes a outros centros, sobretudo a Maceió. De maio a julho, as ambulâncias fizeram 250 viagens.

A Unidade Mista funciona ainda como maternidade, mas apenas para partos normais e de baixo risco. “As minhas companheiras de trabalho costumam dizer que nessa sala de parto tem um Deus vivo”, comenta a parteira Maria de Fátima Santos, 62 anos. Ela garante que já trouxe ao mundo cerca de três mil bebês. Começou na profissão ainda com 16 anos de idade, auxiliando a avó que também era parteira. Para Maria de Fátima, a pior sensação é quando ocorre um óbito durante o parto.

Apesar de a maternidade da Unidade Mista só realizar procedimentos de baixo risco, o caso pode evoluir e se tornar grave, surpreendendo a equipe médica, que não dispõe de equipamentos modernos para monitorar o quadro da paciente e do bebê. Foi o que aconteceu recentemente, lembra Maria de Fátima.

“Recebemos uma gestante que tinha feito três ultrassonografias (fora na Unidade Mista) e o bebê estava na posição correta para nascer. Quando ela começou a sentir as dores do parto, fiz o toque e percebi que a criança havia sentado. Como aqui não fazemos cesarianas, levamos a paciente para Porto Calvo às pressas, mas não teve jeito: o bebê morreu. Quando isso acontece eu fico arrasada. É como se eu perdesse um pedaço de mim”, lamentou Maria de Fátima.

SESAU

A previsão da Sesau é pôr a UPA de Maragogi em funcionamento na segunda semana de setembro. Segundo a Secretaria, a unidade está com a estrutura física pronta e os equipamentos sendo adquiridos. “O Estado aguarda uma posição do município sobre a chegada de todos os equipamentos para instalar e entrar em pleno funcionamento. Aí o Estado passa a gestão à prefeitura, como já aconteceu em Penedo, Viçosa, Marechal Deodoro e Palmeira dos Índios”, informou a Sesau, por meio da assessoria de imprensa.

Os recursos aplicados para a construção e aquisição dos equipamentos da UPA de Maragogi, segundo a Sesau, são provenientes do Ministério da Saúde (R$ 1,4 milhão) e do governo do Estado (R$ 996.625,75). A Sesau esclarece, ainda, que a gestão da UPA é tripartite: o governo federal entra com 50% dos recursos para custeio, o Estado com 25% e o município de Maragogi com os 25% restantes.

Sem assistência, alagoanos vão para Pernambuco

Por Severino Carvalho, repórter da Gazeta de Alagoas (matéria publicada na edição de 24.08.14 - Especial sobre a saúde em Alagoas)

Barreiros (PE) – Oitenta por cento da cidade de Barreiros, no Litoral Sul pernambucano, foi atingida pela enchente do Rio Una, em junho de 2010. A enxurrada de águas barrentas pôs no chão o hospital do município com uma população de 42 mil habitantes. Menos de três anos depois, em 1º de fevereiro de 2013, o governo de Pernambuco inaugurava, no Engenho Alegre, à margem da PE-060, o Hospital Municipal Jailton Messias, reconstruído com R$ 10,2 milhões.

É para lá que quase diariamente rumam os alagoanos em busca de atendimento médico de qualidade, seja nas áreas de urgência e emergência ou ambulatorial. No desespero, vale até falsificar o endereço, fingir que é pernambucano, para não ter que penar sem assistência nos hospitais e nas unidades desestruturadas da região Norte de Alagoas.

Segundo a direção do Hospital Municipal de Barreiros, as ocorrências envolvendo pacientes alagoanos chega a 30% de todo o atendimento ali realizado. São, na maioria, moradores dos municípios de Maragogi, Japaratinga e de Porto Calvo, cuja distância média até Barreiros é de 40 quilômetros.

Só de Maragogi, de janeiro até julho, foram atendidos 45 pacientes em consultas emergenciais, sem contar os casos de cirurgias eletivas ali realizadas. “Se for emergência, a gente atende, afinal o Sistema Único é universal. Agora, na parte ambulatorial, não temos obrigação. Mas não vamos voltar um paciente que veio de tão longe e deixá-lo sem atendimento aqui”, disse o diretor administrativo do Hospital Municipal de Barreiros, Marcos Miranda.

Uma médica que já trabalhou em Maragogi e que hoje atua na área clínica do Hospital de Barreiros acredita que a desestruturação da rede de atendimento à saúde de Alagoas provoca essa fuga para o Estado vizinho de Pernambuco.

“Sei que a saúde por lá está um caos em todas as unidades. Eu trabalho aqui (Barreiros) e em São José da Coroa Grande (PE) e é muito comum recebermos pacientes de Maragogi, de Japaratinga, de Porto Calvo. Atendemos casos de emergência pelo SUS em qualquer local, mas muita gente vem aqui em busca de atendimento ambulatorial, usa endereço falso para poder ser atendido, porque não tem assistência em Alagoas”, revelou a médica, que pediu anonimato.

Acometida por dores abdominais, a dona de casa Elane Cristina Barros, moradora do sítio Ponta de Mangue, em Maragogi, procurou atendimento no posto de Saúde da Família do distrito de Peroba. De lá, teve de ser encaminhada à Unidade Mista de Saúde deste município alagoano, no centro da cidade.

Ela foi diagnosticada com suspeita de cálculo renal. Precisava, entretanto, realizar exames. Esperou longos 15 dias, o suficiente para contrair uma infecção urinária que a forçou a buscar atendimento no Hospital Municipal de Barreiros.

“Em Maragogi, eu fui atendida em parte. O problema é que lá não tem como fazer um exame sequer. Aqui a assistência é melhor”, alegou Elane, recompondo-se na área de observação feminina do Hospital de Barreiros. Ao ser indagada sobre como se sente tendo de buscar auxílio em Pernambuco, ela respondeu: “Constrangida. A palavra é essa!”, lamentou.

DIFICULDADES

Mas se engana quem pensa que tudo transcorre às mil maravilhas no Hospital Municipal de Barreiros. O diretor administrativo confessa, logo no primeiro contato: “Estamos sufocados”. O custo para manter um hospital daquele porte, com 54 leitos, 230 funcionários, 32 médicos e cerca de 350 atendimentos diários passa de R$ 1 milhão, a maior parte custeada pelo Ministério da Saúde.

Como no hospital de referência de Porto Calvo, em Alagoas, os municípios circunvizinhos de Barreiros não colaboram financeiramente para manter a instituição. “Não existe um consórcio entre os municípios para nos ajudar. No popular, eu diria que eles fazem a feira e ainda comem da nossa. Estamos fazendo das tripas coração”, resumiu Marcos Miranda, recordando que reuniões já foram realizadas com os prefeitos das cidades vizinhas e a proposta de pactuação de recursos não avançou.

Posto de saúde vira antro de sexo e drogas

Por Patrícia Bastos, repórter da Gazeta de Alagoas (matéria publicada na edição de 24.08.14 - Especial sobre a saúde em Alagoas)

Arapiraca – Mesmo com uma Unidade Básica de Saúde (UBS) localizada ao lado de casa, na Vila Aparecida, zona rural de Arapiraca, Maria Cíntia dos Santos, 17 anos, precisa caminhar por mais de uma hora para fazer consultas ou vacinar o filho, que tem um ano de idade.

“Faz mais de dois anos que começaram a construir esse posto e o serviço passou mais tempo parado do que em obras. Além da dificuldade que a gente tem para conseguir atendimento, o local está abandonado. Só serve para umas pessoas usarem drogas e levarem mulheres para fazer sexo lá dentro”, denunciou a jovem.

A Gazeta de Alagoas esteve na USB da Vila Aparecida em 31 de julho e constatou a situação de abandono. A construção, em fase de acabamento, está desprezada. Em várias salas há lixo pelo chão e bitucas de cigarro. Em uma outra, a água da chuva ficou empoçada, apresentando risco de contaminação do mosquito da dengue.

O abandono da unidade de saúde é motivo de reclamação para todos os moradores da Vila Aparecida. Alguns chegam até mesmo a afirmar que era melhor quando o posto funcionava, de maneira improvisada, em uma residência naquele local.

“Hoje, se a pessoa não tiver um carro ou uma moto, tem que ir a pé até o posto de saúde do sítio Genipapo. Sempre que encontro alguém indo ou voltando daquela região, dou carona, porque geralmente a pessoa está muito cansada da caminhada no sol”, afirmou um mecânico da comunidade.

Além da difícil e longa caminhada, os moradores da Vila Aparecida e também de Poço da Pedra, Baixa do Capim e Salgado são atendidos em um ambiente inadequado. É que o posto de saúde do Genipapo funciona em uma escola desativada. E ainda há mais problemas. “Queria marcar uma consulta para meu filho com o médico, mas faz muito tempo que o acompanhamento é só com a enfermeira. A vacinação dele também está atrasada. Já fui três vezes até o posto e não havia ninguém para aplicar”, reclamou Cíntia dos Santos.

A assessoria de comunicação da Prefeitura de Arapiraca declarou desconhecer a informação de que a obra da UBS Vila Aparecida continuava paralisada. Conforme o assessor da Secretaria Municipal de Obras, há um cronograma de obras para a construtora contratada para finalizar a obra daquela e de outras nove UBS que estão sendo construídas no município.

Quando ficar pronta, a UBS Vila Aparecida terá dois consultórios médicos, um consultório odontológico, sala de atenção básica da enfermagem, farmácia e ainda salas para aplicação de vacinas, suturas e curativos, além dos setores administrativo e de assistência social.

Atenção básica não dispõe de médicos

Por Severino Carvalho, repórter da Gazeta de Alagoas (matéria publicada na edição de 24.08.14 - Especial sobre a saúde em Alagoas)


São Luís do Quitunde – A atenção básica à saúde é o primeiro nível de atendimento aos usuários do Sistema Único de Saúde (SUS). É a “porta de entrada”, onde a população teria acesso a especialidades básicas como clínica geral, pediatria, obstetrícia e ginecologia. Estudos demonstram que a atenção básica é capaz de resolver cerca de 80% das necessidades e problemas de saúde. Mas, como solucioná-los se a porta ao abrir não leva o cidadão a lugar nenhum?

As Unidades Básicas de Saúde (UBSs) – postos do Programa Saúde da Família – operam precariamente nos municípios da região Norte de Alagoas. Em São Luís do Quitunde, em três unidades visitadas pela

Gazeta de Alagoas no mês de julho, nas localidades de Pindoba, Quitunde e Lagoa Vermelha (zona rural), não havia médicos disponíveis.

Sem atendimento na ponta do sistema, os usuários migram para os hospitais que, depauperados, não suportam a grande demanda. Prostrada no duro banco de madeira e refestelada na fria parede revestida com azulejos brancos estava Maria Cristina de Lima, 41 anos. Ela esperava por atendimento no Hospital Municipal José Augusto, no centro São Luís do Quitunde.

Moradora do bairro Quitunde, a mulher sofria com dores pelo corpo; a garganta inflamada. “Fui ao posto do Quitunde, mas a médica está de férias; aliás, falta médico em todos os postos. Tenho uma mãe com 77 anos de idade, doente, em cima de uma cama faz três anos. O agente de saúde só passa lá de seis em seis meses”, reclamou, enquanto aguardava por atendimento.

Com 32 leitos e cerca de 120 atendimentos diários, o Hospital José Augusto só dispõe de um médico, que se desdobra para vencer o plantão de 24 horas. Os centros cirúrgico e radiológico estão desativados há anos. Dessa forma, os casos de média e alta complexidades são logo transferidos para Maceió.

Além dos usuários municipais, o Hospital de São Luís do Quitunde acaba absorvendo, também, segundo a direção, pacientes dos municípios de Porto de Pedras, São Miguel dos Milagres e Barra de Santo Antônio. “No fim de semana, cai tudo aqui”, revelou a diretora administrativa Lúcia Tenório.

ZONA RURAL

Em São Luís do Quitunde, a Gazeta de Alagoas visitou a UBS Corália Belo da Silva, no povoado Pindoba. No posto de saúde, havia apenas dois servidores: um agente administrativo e uma serviçal.

“Eu procurei o posto de saúde para apresentar o exame de meu filho e o médico está de férias. Não existe ninguém para substituí-lo. É sempre assim”, criticou o trabalhador rural Luiz dos Santos, 23, morador do povoado.

Na UBS de Pindoba não há dentista. As marcações para consultas são realizadas às sextas-feiras e os procedimentos são feitos no posto de saúde do centro da cidade. Na semana em que a Gazeta de Alagoas esteve na UBS Corália Belo, as marcações tinham sido suspensas, conforme cartaz afixado na porta de entrada da unidade.

A situação se agrava na zona rural. A Fazenda Lagoa Vermelha fica a cerca de 25 km do centro da cidade. Na propriedade, moram aproximadamente 120 famílias. Segundo a agricultora Alessandra Maria dos Santos, 39 anos, não há dentista na Unidade Básica de Saúde (UBS) Antônio Buarque Filho há pelo menos um ano.

“É preciso tirar uma ficha para ser atendida pelo dentista em São Luís do Quitunde. A gente se vale mesmo é do dentista do sindicato (dos trabalhadores rurais), esse não falha”, argumentou a agricultora.

MATRIZ

Desestruturada também se encontra a rede básica de atendimento à saúde de Matriz do Camaragibe. Sem médico no posto do Programa de Saúde da Família (PSF) do seu bairro, a dona de casa Rayane Cristina da Silva, 20, migrou para o Hospital Municipal Luiz Arruda em busca de atendimento pediátrico para o filho de apenas três meses de vida. Ela não conseguiu atendimento especializado para curar a conjuntivite que acometia o rebento.

“No posto não tem pediatra. Aqui tem, mas só são 20 fichas. Eu não consegui o encaixe e fui atendida por um clínico geral”, explicou Cristina, a embalar a criança impaciente. Com 25 leitos, o Hospital Luiz Arruda também não realiza cirurgias porque o centro destinado a esses procedimentos está desativo há mais de uma década.

Assim como nos demais hospitais da região Norte, não existem na unidade serviços de radiologia e a maternidade só funciona para partos normais de baixo risco. As transferências de pacientes para Maceió são constantes e crescem ainda mais nos fins de semana, quando acidentes de trânsito, sobretudo aqueles envolvendo motocicletas, se avolumam embalados pelo consumo de álcool e drogas ilícitas.

SAÚDE BÁSICA

Por Maurício Gonçalves, repórter da Gazeta de Alagoas (matéria publicada na edição de 24.08.14 - Especial sobre a saúde em Alagoas)

Cadê o homem de branco? A pele arde em brasa, a mente delira, o frio se entranha e a febre alucina. O encantado some feito mal-assombro. Vestido de branco, qual alma penada, só o medo de ir a postos de saúde sem médicos, como em Lagoa Vermelha, Quitunde e Pindoba, zona rural de São Luís do Quitunde.
 
Se a doença do SUS não tem cura, resta apenas uma profilaxia: “rezar para os filhos não adoecerem” é a única receita encontrada por Helenilda Herculano para espantar os fantasmas do posto que abre uma vez por semana e ocupa parte da escola, no Sítio Lavras, em Palmeira dos Índios.
 
A visagem de um doutor é relativa, varia em saltos no espaço-tempo, de 15 em 15 dias, ou na Serra da Mandioca, a três horas de caminhada com o filho febrento no colo.
 
A origem de todos os problemas da saúde pública em Alagoas está na rede de atenção básica, que deveria resolver 80% dos casos, mas resolve bulhufas.
 
Sem profissional de saúde no posto da região, o paciente cai no limbo hospitalar, uma espécie de purgatório, com muita alma para pouca reza. É um médico só por plantão, e quem achar ruim vá ver o que é bom pra tosse no Hospital Geral do Estado. Ou agonize em casa, como a moradora do povoado Quitunde, de 77 anos, que está de cama há três anos e só recebe a visita de um agente de saúde a cada seis meses.
 
Se o povo padece, o sistema adoece. Rios de dinheiro da saúde pública escorrem pelo ralo em contratações suspeitas ou gastos com reformas esquisitas.
 
Boa parte dos postos de saúde reformados no ano passado, em Maceió, deve passar por novas obras, este ano, para consertar os defeitos que não foram corrigidos. Será a reforma da reforma.
 
Muitas unidades, como a de Fernão Velho, ainda precisam de pintura externa e interna, de reparos na rede elétrica, por causa de curtos-circuitos, e na estrutura hidráulica, porque mofo e infiltrações continuam.
 
A primeira reforma foi feita sem licitação; a segunda é questionada e investigada pelo Conselho Municipal de Saúde.

Consultas são feitas apenas duas vezes por mês

Por Patrícia Bastos, repórter da Gazeta de Alagoas (matéria publicada na edição de 24.08.14 - Especial sobre a saúde em Alagoas)

Palmeira dos Índios – Quando vão fazer suas orações antes de dormir, os moradores do Sítio Lavras – comunidade de difícil acesso no município de Palmeira dos Índios – sempre incluem preces pela saúde de suas famílias. É preciso muita fé porque o posto de saúde do povoado só abre uma vez por semana e tem médico a cada quinze dias.

“O jeito é rezar para que nossos filhos não fiquem doentes quando estiver faltando muitos dias para o médico chegar. Se é uma febre ou gripe, a gente se vira com os remédios que tem em casa, mas se for um problema mais grave, pode até morrer antes de conseguir uma consulta”, afirma a agricultora Helenilda Herculano Vieira.

Ela mora ao lado do posto de apoio, mas já passou apuros quando precisou de atendimento médico para si ou para algum dos parentes. De acordo com Helenilda, uma das opções é o posto de saúde da Serra da Mandioca, que só tem médico uma vez por semana.

“Aqui, ou você tem seu próprio transporte, seja cavalo, carroça ou moto, ou então tem que andar a pé, como é o meu caso. Se for para pegar um ônibus ou carro para ir até a cidade, tem que ir para a pista, que é quase uma hora de caminhada. Se a pessoa doente não conseguir andar até lá, o jeito é pedir para alguém que vai para a cidade mandar um táxi de lá, o que sai muito caro. Ou então, morre mesmo”, contou a agricultora.

A vizinha de Helenilda, Rosalva Germano da Silva, que também trabalha como agricultora, fala que muitas vezes chega a caminhar mais de três horas quando precisa de atendimento médico. Ela conta que, pouco tempo atrás, o filho de oito anos teve uma inflamação na garganta, acompanhada por febre, e precisou levá-lo até o posto de saúde do povoado Serra da Mandioca.

“Ele é pesado e eu precisei carregá-lo no braço debaixo do sol. Não encontrei ninguém que pudesse dar uma carona para a gente e fui caminhando até o outro posto de saúde. Foram quase quatro horas de caminhada e tinha horas que achava que não ia conseguir, mas pelo filho a gente faz tudo, não é? Além do cansaço, as costas doíam muito e tive que parar várias vezes e botar meu filho no chão porque não aguentava. Pelo menos, no fim, deu para fazer a consulta com o médico, que passou remédio e agora ele está bom”, relatou Rosalva Germano.

Apesar da dificuldade, segundo ela, os moradores do Sítio Lavras ainda preferem ir até a Serra da Mandioca do que procurar atendimento médico na cidade. “Em caso de emergência, o pessoal do posto diz que a gente tem que procurar a UPA ou o hospital, em Palmeira dos Índios. Outra opção é ir para Quebrangulo, já que depois de chegar na pista fica mais perto”, disse Rosalva Germano.

Helenilda completa dizendo que, às vezes, os moradores acabam preferindo procurar um farmacêutico a aguardar por atendimento na UPA. “Quando a gente procura o hospital, demora tanto para ser atendido que, às vezes, é melhor procurar uma farmácia, se tiver algum dinheiro. Sei que o farmacêutico não é igual ao médico, que vai examinar melhor, mas se for uma coisa mais simples é melhor ir na farmácia mesmo, até porque, se ficar muito tarde, fica difícil até conseguir transporte para voltar para casa”, contou.

DENTRO DA ESCOLA

A falta de médicos não é o único problema do posto de saúde de Lavras. Segundo os moradores, o atendimento poderia ser melhor se o espaço não fosse dividido com a escola da comunidade. “O posto funciona uma vez por semana, às quintas-feiras, pela manhã, e a escola funciona só no período da tarde. Então um não atrapalha o outro na questão de horário, mas acho que se a gente tivesse uma escola e um posto de saúde em locais separados seria muito melhor”, afirma o morador da comunidade, Antônio Germano.

O trabalhador Erisvaldo Gonçalves Paiva concorda com o amigo. De acordo com eles, se o posto de saúde e escola funcionassem em locais separados, seria possível formar mais turmas na escola, o que impediria que crianças tivessem que pegar o transporte escolar para assistir às aulas em outra comunidade. Eles acham também que o atendimento médico poderia ser melhor. “Se a gente tivesse um posto de saúde de verdade, acho que não teriam que passar tantas requisições encaminhando para médico na cidade. Talvez, mesmo que não tivesse médico sempre, pelo menos teria alguém que pudesse dar um remédio para a pessoa ir melhorando até o dia da consulta”, considerou.

EQUIPE VOLANTE

A secretária de Saúde de Palmeira dos Índios, Verônica Medeiros, demonstrou que não vê nenhum problema no atendimento médico nas comunidades rurais. “Não é só em Lavras que acontece desse jeito. Faz parte da estratégia do PSF ter uma equipe montada no Centro de Saúde da Família, que fica localizado em um povoado maior. Nas comunidades menores, há uma equipe que faz atendimento nos postos-bases uma vez a cada quinze dias. A atribuição principal dessas equipes não é atender casos de doença, embora façam isso também, mas atuar na prevenção”, explica.

Segundo Verônica, em casos de emergência ou de necessidade de consulta médica fora dos dias em que há médico na comunidade, a recomendação é para que os pacientes procurem a Unidade de Pronto Atendimento (UPA), na zona urbana de Palmeira dos Índios, ou então o Centro de Saúde a que o posto da localidade está vinculado. “É assim que funciona”, reforça.

A secretária afirma que Palmeira dos Índios conta com 13 postos de saúde em funcionamento, na zona urbana, e outros nove espalhados pela zona rural. De acordo com ela, a cobertura de Saúde da Família no município chega a 97%. “Das equipes existentes, apenas duas estão incompletas. Em uma delas, a médica se afastou devido a problemas de saúde e está de benefício; na outra, o afastamento teve motivo eleitoral. Também já solicitamos mais uma equipe de PSF para melhorar ainda mais a cobertura”, declarou.

SANTANA DO IPANEMA

O município de Santana do Ipanema também adota o modelo de PSF volante na zona rural. A secretária municipal de Saúde, Petrúcia Mattos, afirma que a cobertura do Programa Saúde da Família chega perto de 70% e apenas em dois povoados há médicos disponíveis para atender a população a semana inteira.

“Em São Félix e Areias, que são os maiores povoados na zona rural, nós temos Centros de Saúde. De lá saem equipes volantes, uma vez por semana, para fazer atendimento nos postos base, alguns deles improvisados, mas já melhoramos muito a cobertura. Tínhamos apenas nove equipes, agora temos 12”, declarou.

Segundo Petrúcia, todas as equipes estão completas. Apesar de recentemente uma médica ter pedido exoneração do cargo, a secretária garante que ela já foi substituída. “Não há uma rotatividade grande de médicos por aqui, como acontece em outros municípios. Atualmente, temos cinco médicos cubanos do programa Mais Médicos e o restante tem residência em Santana mesmo”, declarou.

Seis unidades da capital receberão reformas emergenciais

Por Erick Balbino, repórter da Gazeta de Alagoas (matéria publicada na edição de 24.08.14 - Especial sobre Saúde em Alagoas)

Maceió – Pelo menos seis postos de saúde da capital alagoana estão inseridos em uma lista, divulgada pela Prefeitura de Maceió, que mostra as unidades que serão contempladas com reformas emergenciais, mesmo após já terem passado por obras, no início deste ano.

O Conselho Municipal de Saúde (CMS) realizou um levantamento dessas reformas, realizadas pela empresa AL Construções e Consultoria, contratada pela Secretaria Municipal de Saúde, para avaliar a compatibilidade entre os valores previstos e os serviços executados. A Unidade de Saúde da Família (USF) Edvaldo Silva, no bairro de Fernão Velho, recebeu, em janeiro deste ano, um investimento de R$ 5.820,00, mas não teve alguns itens básicos reparados, como a pintura interna e externa, além da rede hidráulica e elétrica, que apresenta risco de curto-circuito. As paredes e o forro de PVC apresentam mofo e estragos que não foram sanados.

Todo o valor investido foi utilizado unicamente para a troca da porta do banheiro, para o assentamento de dois metros de piso cerâmico na sala de odontologia e para o reboco da parede nas salas de PSF, citologia e triagem.

Entre os outros postos de saúde que terão de ser reformados novamente está a USF Cláudio Medeiros Neto, em Rio Novo, que recebeu R$ 11.816,27, mas o valor sequer deu para a pintura interna da unidade. A UBS Walsomiro Alencar, no Jacintinho, até recebeu investimentos de R$ 25.000, mas a verba não foi suficiente para solucionar problemas como as rachaduras nas paredes e o cupim na sala de psicologia, além dos remendos feitos no piso de cerâmica, que foram realizados de forma grosseira. Já a USF Guaxuma possui dois valores para a mesma obra: consta R$ 54.000 na placa e R$ 80.000 no documento. A USF Denisson Menezes, no bairro Tabuleiro do Martins, recebeu R$ 52.000, enquanto a USF João Sampaio, mesmo após ter recebido R$ 16.000 para retelhamento e pintura de portas e paredes, vai utilizar um novo investimento, no valor de R$ 198 mil, para a nova reforma.

Precisar de atendimento médico na maioria dessas unidades é se arriscar em um ambiente insalubre. Paredes descascando, cadeiras e fechaduras quebradas e enferrujadas são alguns dos percalços enfrentados pelos usuários, diariamente.

No Posto de Saúde João Paulo II, no Jacintinho, homens e mulheres são obrigados a dividir o mesmo banheiro. O cômodo exclusivo para o público masculino está interditado e, no feminino, nunca tem água. “Me deparar com um homem já com a calça desabotoada dentro do banheiro foi algo muito constrangedor”, disse a vendedora Larissa Pereira. “E o pior é não ter nem água nas torneiras para o mínimo de higiene”, reclamou.

As reformas já foram iniciadas, tanto nas Unidades de Saúde da Família (USF) quanto nas Unidades Básicas de Saúde (UBS). Segundo a assessoria de comunicação da Secretaria Municipal de Saúde (SMS), os serviços já começaram nas três UBSs cujas obras são consideradas mais urgentes, localizadas nos bairros do Prado, Pitanguinha e São José. A previsão é que, até o fim de agosto, todas as 27 unidades restantes tenham recebido os reparos necessários, a fim de melhorar o atendimento à população. O prazo final para que todos os postos estejam prontos, definido pelo Ministério da Saúde, é até fevereiro de 2015.

A coordenadora-geral dos Distritos Sanitários da SMS e assistente social, Flávia Melro, informa que todas essas obras de reforma já foram apresentadas e aprovadas pelos integrantes do Conselho Municipal de Saúde (CMS).

Reformas são questionadas

Por Thiago Gomes, repórter da Gazeta de Alagoas (matéria publicada na edição de 24.08.14 - Especial sobre a saúde em Alagoas)

Maceió – A iniciativa da Prefeitura de Maceió de reformar unidades básicas de saúde do município está sendo questionada e virou objeto de investigação por parte do Conselho Municipal de Saúde (CMS). Após fiscalização nas obras, os conselheiros apontaram indícios de irregularidades e tomaram uma decisão em conjunto: querem o cronograma completo da reforma das unidades, contendo, inclusive, a planilha com os valores que serão gastos e de que forma estão e serão empregados.

Durante reuniões ordinárias do conselho, várias discussões acaloradas acerca do assunto tomaram conta da pauta. O coordenador do setor de engenharia da Secretaria Municipal de Saúde (SMS), Roberto Monteiro, foi chamado em uma delas, ocorrida em julho, para dar as explicações por parte da prefeitura. Outras inspeções também devem acontecer, extemporâneas, nessas obras, feitas pelos conselheiros. Até os valores expostos nas placas das obras estão sendo questionados.

O CMS requisitou que um representante legal da construtora responsável pelas reformas nos postos apresente ao colegiado o plano de trabalho, o projeto, o que será gasto e o tempo para a conclusão do trabalho. O conselho quer ainda que a coordenação de engenharia da SMS disponibilize as planilhas aos Conselhos Gestores e, nas unidades de saúde que não têm esse conselho, que a planilha seja afixada, para que servidores e usuários possam acompanhar a execução da obra. A solicitação ainda contempla o envio do cronograma do antes e depois das reformas, o que foi gasto e como os serviços serão realocados.

De acordo com a presidente do Conselho Municipal de Saúde, Flávia Citônio, os valores que, porventura, venham a ser apresentados pela Secretaria de Saúde de Maceió vão ser analisados, com minúcia, pela Comissão de Acompanhamento de Projetos, Contratos e Convênios do CMS. Após a análise, um relatório será produzido e apreciado em uma reunião ordinária do colegiado.

Pela explicação de Roberto Monteiro, o prazo para a conclusão de todas as reformas nas unidades básicas de saúde do município é fevereiro de 2015. Ele disse que as obras no posto da Pitanguinha estão na metade e a prioridade se estende para as unidades do Canaã, Durval Cortez (Prado), Roland Simon (Vergel do Lago), Guaxuma e Osvaldo Brandão Vilela (Ponta da Terra). Segundo o engenheiro, a maior dificuldade da prefeitura, atualmente, é fazer os ajustes no prédio e manter o funcionamento, sem prejudicar usuários e servidores. Como promete, a previsão de obras em cada unidade é de três meses.

Sobre as planilhas, Monteiro diz que visitou várias unidades em reforma e garante que, em todas elas, constam não somente as planilhas, mas os projetos e cronogramas, que podem ser consultados por qualquer interessado. Ressaltou ainda que as obras iniciadas nestes postos municipais não fazem parte das atividades previstas no decreto de emergência da saúde, expedido no início da atual gestão. “Houve processo licitatório”, assegura.

Quanto às fiscalizações de surpresa, o engenheiro acredita ser uma atitude insegura. Segundo ele, como se trata de uma construção, a empresa deveria ser avisada, para criar um ambiente salutar aos conselheiros, a fim de evitar acidentes de trabalho. Entretanto, os membros do CMS rebateram o argumento, alegando que nenhuma inspeção deve ser avisada, para que não haja “maquiagem”.

Para atender ao pedido de providenciar as planilhas constando o antes e o depois das obras, Ricardo Monteiro enfatiza que o Ministério da Saúde orienta que informações sejam inseridas no Sistema de Planejamento de Obras com fatos e medições, e concorda que os valores expostos nas placas de obras devem ser objeto de fiscalização mesmo, porém pediu que os questionamentos não sejam feitos sem conhecimento de causa. Segundo ele, a planilha orçamentária de todo e qualquer serviço público é aberta pela Caixa Econômica Federal e que existe um sistema nacional de preço, obra e serviço, preconizado pela tabela do Sistema Nacional de Pesquisa de Custos e Índices da Construção Civil (Sinap).

Epidemia de diarreia expõe chagas abertas da água contaminada

Por Patrícia Bastos, repórter da Gazeta de Alagoas (matéria publicada na edição de 24.08.14 - Especial sobre a saúde em Alagoas)

Palmeira dos Índios – Doença que atacava locais subdesenvolvidos no século 19, a diarreia provocou 165 mortes em Alagoas, em um período de três meses do ano passado. A moléstia provocou milhares de atendimentos em hospitais e postos de saúde, principalmente na região entre os municípios de Palmeira dos Índios e Estrela de Alagoas. Conforme dados divulgados pela Secretaria de Estado da Saúde, cerca de 92 mil pessoas ficaram doentes, em 21 municípios que sofreram com epidemia e outros 29 que ficaram em estado de alerta.

A Doença Diarreica Aguda (DDA) acomete populações que vivem sem esgotamento sanitário e não têm acesso à água tratada. Além de demonstrar uma série de problemas na distribuição de água em carros-pipa para famílias que foram atingidas pela seca, a epidemia escancarou também as deficiências na saúde pública, que deixou faltar soro nas unidades de saúde e não distribuiu quantidade suficiente de hipoclorito de sódio para a prevenção do problema.

“Na época, usávamos uma média de 800 unidades de soro por dia, para evitar a desidratação dos pacientes. A ajuda que chegou, tanto do Estado como do município, foi muito pequena, ínfima até. O hospital teve que se endividar ainda mais comprando esse insumo”, explica o provedor do Hospital Santa Rita, Roberto Salgueiro.

O hospital de Penedo deu o alerta sobre a epidemia de diarreia no dia 17 de maio do ano passado, depois que foi invadido por uma multidão com sintomas de aumento na frequência de evacuações, além de alteração na consistência das fezes, às vezes acompanhados também de vômito e febre.

Amostras recolhidas nos municípios onde houve a maior quantidade de casos revelou que a água dos carros-pipa estava contaminada por bactérias e protozoários. A transmissão também estaria acontecendo por vírus. Além disso, a barragem da Carangueja, que atende Palmeira e Estrela, estava com a quantidade de cianobactérias muito acima do máximo permitido.

O principal problema, no entanto, estava na distribuição de água pelos carros-pipa. Ficou constatado que, em muitos casos, a água que era levada para as famílias que sofriam com a seca não recebia nenhum tipo de tratamento e estava contaminada. A contaminação acontecia também nos tanques dos veículos que, antes de transportarem água, haviam servido para transportar combustível, produtos químicos e ração.

O combate à DDA avançou em várias frentes. O Exército, que coordena a Operação Pipa, reforçou a fiscalização dos veículos e dos mananciais de onde a água era retirada, e o Ministério Público Estadual formou um Grupo de Trabalho (GT) da Saúde.

Promotores ajuizaram uma série de ações civis públicas nos locais onde a diarreia chegou à situação de epidemia, com o intuito de obrigar os municípios a adotarem medidas para evitar novos casos.

Em Palmeira dos Índios, a promotora Salete Adorno incluiu o Exército como polo passivo da ação e, por isso, a Justiça estadual decidiu que a competência para atuar no caso é da Justiça Federal. Ainda não havia sido concluída a intimação da decisão judicial às partes do processo.

HGE, verdades e mentiras

Por Maurício Gonçalves, repórter da Gazeta de Alagoas (matéria publicada na edição de 24.08.14 - Especial sobre a saúde em Alagoas)

A propaganda oficial é linda. O brilho nos olhos do violeiro chapa-branca mostra um Hospital Geral do Estado (HGE) com pacientes felizes e tudo novo em folha, após uma bela reforma com ampliação de leitos. “Isso é real”, dizia o trovador, em peças publicitárias. Será?

Pacientes que apelidam o local como “matadouro” ou “corredor da morte” garantem que não. A verdade dói, é terrível e pode ser vista numa comunidade do Facebook criada com o sugestivo nome de “HGE Real” e atualizada por funcionários que não gostam de mentira. Um deles virou fonte da Gazeta, sob a condição de ter o nome preservado.

De todo modo, nossa reportagem ingressou no HGE e constatou parte das denúncias. Como é proibido entrar jornalistas, era preciso driblar a segurança. Conseguimos, três vezes. Numa delas, os vigilantes desconfiaram e saímos às pressas. Noutra, fotografamos as caixas do caríssimo aparelho de tomografia computadorizada, largadas no corredor há mais de seis meses. “Chegou em 15/02/2014”, a inscrição na madeira foi feita por um funcionário revoltado e marca o tempo de uma história impressionante. Dessas que só acontecem no serviço público.

“Esse tomógrafo era para funcionar desde o início do HGE, mas a sala construída na reforma (da então Unidade de Emergência) foi inadequada”, explica nossa fonte. Esta inauguração do HGE aconteceu em 2008. Somente após cinco anos decidiram ajeitar a sala, mas era apenas o reinício da saga para receber o aparelho. “Tiveram de quebrar o piso, o teto e a parede para perceberem que a fiação elétrica não comportava o tomógrafo”.

Em janeiro deste ano, nova reforma. “Botaram a fiação necessária, mas quando o tomógrafo chegou constataram outro problema: poderia gerar um superaquecimento e havia até risco de incêndio. Então começaram a quebrar tudo de novo”, explica o funcionário do HGE.

Para piorar, o tomógrafo antigo quebrou há dois meses. Com isso, o principal hospital de urgência e emergência do Estado não realiza mais estes exames. Segundo a fonte da Gazeta de Alagoas, o conserto do único tomógrafo que funciona no HGE custaria R$ 16 mil. “O Estado não paga o reparo e prefere gastar R$ 60 mil por mês para fazer os exames no Hospital Arthur Ramos com dinheiro do HGE”.

Esta semana, a vinda a Alagoas do ministro da Saúde, Arthur Chioro, foi marcada por tapinhas nas costas e palavras bonitas. Num discurso empolgado, o secretário estadual de Saúde, Jorge Villas Bôas, aventurou-se a dizer que não havia mais “camas” nos corredores do HGE. De fato, camas nunca existiram. Já colchonetes, macas e pacientes agonizando no corredor superlotado é rotina. Na semana passada, nossas câmeras registraram pacientes espremidos em macas, no corredor, ou sentados no chão, sem atendimento.

Para o HGE Real, a ampliação é uma farsa, a reforma foi de araque. “O forro da UTI recém-inaugurada desabou no mês de janeiro. Ainda fizeram outra reforma de fachada, custou R$ 300 mil para abrir mais duas portas no hospital. No corredor da área azul, sempre tem uma média de 20 a 30 pacientes por falta de leitos. Não há profissional suficiente e nem banheiro disponível”.

Estas e inúmeras denúncias já chegaram ao Ministério Público, aos poderes Executivo, Legislativo e Judiciário. Além da cobertura rotineira do caos pela imprensa alagoana, a Gazeta já fez duas grandes reportagens investigativas sobre o assunto. Publicadas no dia 17 de março de 2013, com o tema “HGE, o corredor da morte”, e em 20 de dezembro de 2013, com o título “Ampliação do HGE não diminui sofrimento”. De lá para cá, só mudou alguma coisa no HGE de mentirinha do marketing tucano. Na real mesmo, só gemidos e lamentações.

DENÚNCIAS E PERSONAGENS

Por Maurício Gonçalves, repórter da Gazeta de Alagoas (matéria publicada na edição de 24.08.14 - Especial sobre a saúde em Alagoas)

Um soro goteja maldades na veia do pobre que cai na maca do SUS. É o próprio antibálsamo em ação, um elixir às avessas. O disparate em que se tornou a saúde pública em Alagoas envenena lentamente a dignidade humana, faz sofrer e mata.
 
Mãos leves acalentam faces cadavéricas e enchem bolsos privilegiados com falcatruas. O dinheiro do remédio não cura mais, sumiu. Serve agora para comprar carro de luxo ou refastelar com lagosta o estômago sadio dos corruptos.
 
A consciência de quem come verba desliza entre as curvas do intestino delgado, e o grosso do povo se contorce em espasmos, como na epidemia de diarreia que chapiscou pânico em quase trinta municípios do estado.
 
Em apenas três meses, foram 165 mortes e 92 mil casos provocados pela doença (controlada ainda no século 19). Tudo por causa da água podre que chegava às torneiras ou em carros-pipa pagos pelo Exército.
 
Se a falta de saneamento básico é um velho problema, não seja por isso. O governo providencia novos conjuntos populares sem esgoto, seja para vítimas da cheia ou no residencial José Aprígio Vilela, nos fundos do Benedito Bentes. As fossas estouram, o lixo acumula, o barro e a lama se espalham, mas posto de saúde não foi construído. Para quê?
 
Basta passar quatro horas pegando (e esperando) ônibus para chegar ao HGE, no Trapiche. Se chegar lá com dor, suporte a falta de dipirona ou tilatil.
 
Não perca o fôlego: muitos pacientes ficam sem ar por falta de máscara de oxigênio ou de uma simples nebulização. Não se assuste se os auxiliares de enfermagem matarem algum rato a chutes e, por favor, não precise de um exame de tomografia.
 
O aparelho novo que custou uma fortuna está encaixotado, há mais de seis meses, no corredor. O tomógrafo velho quebrou há dois meses e o conserto custaria R$ 16 mil, mas o pessoal prefere pagar R$ 60 mil por mês para o Hospital Arthur Ramos. Devem pensar: “o dinheiro é público mesmo...”.