terça-feira, 2 de setembro de 2014

DENÚNCIAS E PERSONAGENS

Por Maurício Gonçalves, repórter da Gazeta de Alagoas (matéria publicada na edição de 24.08.14 - Especial sobre a saúde em Alagoas)

Um soro goteja maldades na veia do pobre que cai na maca do SUS. É o próprio antibálsamo em ação, um elixir às avessas. O disparate em que se tornou a saúde pública em Alagoas envenena lentamente a dignidade humana, faz sofrer e mata.
 
Mãos leves acalentam faces cadavéricas e enchem bolsos privilegiados com falcatruas. O dinheiro do remédio não cura mais, sumiu. Serve agora para comprar carro de luxo ou refastelar com lagosta o estômago sadio dos corruptos.
 
A consciência de quem come verba desliza entre as curvas do intestino delgado, e o grosso do povo se contorce em espasmos, como na epidemia de diarreia que chapiscou pânico em quase trinta municípios do estado.
 
Em apenas três meses, foram 165 mortes e 92 mil casos provocados pela doença (controlada ainda no século 19). Tudo por causa da água podre que chegava às torneiras ou em carros-pipa pagos pelo Exército.
 
Se a falta de saneamento básico é um velho problema, não seja por isso. O governo providencia novos conjuntos populares sem esgoto, seja para vítimas da cheia ou no residencial José Aprígio Vilela, nos fundos do Benedito Bentes. As fossas estouram, o lixo acumula, o barro e a lama se espalham, mas posto de saúde não foi construído. Para quê?
 
Basta passar quatro horas pegando (e esperando) ônibus para chegar ao HGE, no Trapiche. Se chegar lá com dor, suporte a falta de dipirona ou tilatil.
 
Não perca o fôlego: muitos pacientes ficam sem ar por falta de máscara de oxigênio ou de uma simples nebulização. Não se assuste se os auxiliares de enfermagem matarem algum rato a chutes e, por favor, não precise de um exame de tomografia.
 
O aparelho novo que custou uma fortuna está encaixotado, há mais de seis meses, no corredor. O tomógrafo velho quebrou há dois meses e o conserto custaria R$ 16 mil, mas o pessoal prefere pagar R$ 60 mil por mês para o Hospital Arthur Ramos. Devem pensar: “o dinheiro é público mesmo...”.

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